sábado, 3 de outubro de 2009

Olho pro céu e o cinza das nuvens me fazem lembrar seus olhos cinza-esverdeados com brilho de floresta copada ao anoitecer. A lua que insiste em passar com seus Braços-raios por entre as frestas de cada brecha de um coração fechado, selado qual baú de nau no fundo do mar. Mas o sol invade e traz a vida e seus olhos antes cinza ficam verdes maravilha, eu respiro maresia e me embriago no absyntho num mergulho nos seus olhos, tristes olhos que me levam a loucura de te amar e alegrar tudo ao redor.
LMPS

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Senhora das tempestades

Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo trazes o terramoto
a assombração as conjunções fatais e as vozes negras da noite
Senhora do meu espanto e do meu medo.
Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas crepúsculos carregados de presságios
e o lamento dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.
Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegar
e se há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.
Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse trazes
a linha magnética da minha vida
Senhora da minha morte teu nome escreve-se na areia
e é uma palavra que só Deus disse quando tu chegas começa a música
Senhora do vento norte.
Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe e um anjo pousa-me nos ombros
Senhora das Tempestades.
Senhora do sol do sul com que me cegas a terra toda treme
nos meus músculos consonância dissonância
Senhoras das vozes negras coroada de todos os crepúsculos.
Senhora da vida que passa e do sentido trágico do rio das vogais
Senhora da litúrgia sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.
Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita alquimia de sons
Senhora do vento norte que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.
Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos como um ritmo só ritmo como um ritmo.
Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias batem as sílabas da noite
e és tu a voz que dita.
Batem os sons os signos os sinais trazes a festa e a despedida
Senhora dos instantes fica o sentido trágico do rio das vogais o mágico passar das consoantes.
Senhora nua deitada sobre o branco com tua rosa-dos-ventos
e teu cruzeiro do sul nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.
Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio tudo em ti é partida tudo em ti é distância.
Senhora da hora solitária do entardecer ninguém sabe se chegas como graça
ou como estigma onde tu moras começa o acontecer tudo em ti é surpresa
Senhora do grande enigma.
Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes Setembro te levou
para as metrópoles excessivas batem as sílabas do tempo
no rolar dos meses tudo em ti é retorno
Senhora das marés vivas.
Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso tua ternura
e teu chicote sobre a tristeza e a agonia galopas no meu sangue
com teu cateter chamado Pégaso e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.
Tudo em ti é magia e tensão extrema Senhora dos teoremas
e dos relâmpagos marinhos batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.
Tudo em ti é milagre Senhora da energia quando tu chegas a terra treme
e dançam as divindades batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia ao som do nome que só Deus sabe
Senhoras das tempestades.
(Manuel de Melo Duarte Alegre)