quinta-feira, 23 de julho de 2009

Escurece...

De repente tudo escureceu. Assim, sem mais nem menos. De repente o chão faltou-me aos pés... Mas eu não caía. Estava suspensa por invisíveis fios que não ouso ou não quero saber quais. Me sentia Alice no País das Maravilhas... Em outro igual repente, flutuei até um lugar calmo, silencioso, de águas claras e abundantes, vegetação verde, de um verde tão tranqüilizador que me deu vontade de poder deitar naquela relva e lá permanecer pela eternidade. Mas ainda assim continuei flutuando num mundo que parecia mais um sonho. Não havia guerra, não havia medo, assaltos, assassinatos... Mas era tudo muito real. Faltava porém alguma coisa que não conseguia lembrar. Coelhos saltitavam alegremente pelos jardins, agora floridos, com Margaridas, rosas chá, jasmim...Ah, como adoro jasmim e dama da noite. Faz-me lembrar minha infância. Ali, mais adiante tem alguns esquilos comendo alguma coisa. Nozes, talvez. São tão rápidos e delicados.. . Não, não pode ser... Quatro gatinhos brincando de brigar com os outros. Lindos! Me chego até perto deles e quase que instintivamente pergunto-lhes os nomes. Claro, não responderam, mas soltaram um longo e aparentemente alegre miado. Depois voltaram a brincar felizes. Olhava pro céu azul tão claro e forte que me senti numa manhã de inverno, em um dia qualquer de junho. Adoro Junho... Mês cheio de festas. Queria tocar aquele paraíso em que estava envolta, mas não conseguia. Meu Deus será que estou morta? Não. Isso não era possível. Lembrava-se claramente o que estava fazendo quando aconteceu tudo isso. Estava em minha sala, sentada a mesa, e com o prato na frente e um copo com um líquido incolor ao lado, lia um livro de poesias... Acho que era Cecília Meirelles. Passei um longo tempo tentando fixar na memória cada cena que via, cada verde, cada azul, cada ser miúdo ou não, de todos os reinos. Estou ouvindo algo que parece ser água caindo alto. Sim, de fato uma cachoeira em toda sua imensa magnitude e poder se apresentava a minha frente. Era tão bonita que fiquei por mais instantes olhando aquela formosura toda. Mas também não pude sequer molhar as mãos nela. Flutuei mais um pouco e vi que estava num mundo perfeito com tudo que deveria ter vivendo em total harmonia, mas um fato me chamou a atenção; Não haviam pessoas ali. Estranho. Comecei a procurar, mas nada... Ninguém. O prato de comida à frente ainda estava cheio e frio. O copo idem. O livro posto sobre a mesa. E o barulho de algo na rua me chamou a atenção. Corri a janela e vi dezenas de pessoas se aglomerando em frente a um motoqueiro caído. Acidente de trânsito e um infernal barulho de vozes, ambulâncias, policiais... No final da rua, numa praça, um mendigo batia sem razão no seu magro e vira lata cachorro. Que aceitava a punição provavelmente sem nada ter feito, com o mesmo jeito meigo com que aceitaria um afago. Me deu vontade de ir até lá e com minhas próprias mãos tirar o cão magro e quieto das mãos daquele ser de primitiva humanidade. Só então eu descobri que estivera sonhando... E que não havia ninguém em meu sonho, porque toda a beleza do lugar seria destruída caso isso ocorresse. É da natureza do homem, não temos como mudar! É mais forte do que nós, e por isso nem eu mesma tocava nas coisas em meu próprio sonho; Para não contaminá-lo com minha natureza humana.
LMPS

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