quinta-feira, 23 de julho de 2009

Metade...

Por todos os lugares que eu ía lá estava ela. As vezes me olhava, mas era como se não me visse. Era uma criatura estranha, não que fosse feia, muito pelo contrário, mas era misteriosa. De um mistério assustador. Não sabia exatamente o que eu sentia quando a via. Me parecia uma espécie de medo. Me arrepiava a cada vez. Só me sentia bem em casa. Livre dessa figura obscura. Eu era uma pessoa solitária. Morava sozinha. Trabalhava em casa. Sempre estudei com professores particulares e nunca me interessei por estética. Raramente observava a presença de um espelho por exemplo. E se o fazia nunca me dei ao trabalho de me achar nele. Não pensava em nada senão meu trabalho e meus livros. Pelo que me lembro, na infância os meninos mexiam um pouco comigo, por causa da minha altura. Eu era bem mais alta que a maioria deles. Mas era uma figura interessante. Isso ao que me lembre. Depois o tempo foi passando e nunca mais pensei nessas coisas. Mas a figura continuava lá fora me espreitando. Parecia que seguia meus passos, como um felino. Nunca a sentia chegar, e nem partir. Nunca ouvia seus passos ou sua voz. Mas ela estava sempre lá. Certa vez corri atrás dela dentro de um prédio espelhado no centro. Levei um susto e parei sem ar, ao ter a impressão que ela também corria em minha direção. Por um instante foi como se eu fôsse desmaiar. A sensação era a de ter encontrado minha outra metade. Meu complemento. Aquela pela qual havia buscado todos esses anos em segredo, até mesmo para mim. E ela estava alí em minha frente. Também pasma me olhando. Talvez tivesse se assustado com a minha parada repentina, ou talvez tivesse sentindo o mesmo que eu naquele momento. De repente depois de alguns minutos raciocinando sobre o quê fazer e como fazer, sentí uma lágrima escorrer, e ví o mesmo acontecer com ela. Enfim compreendí que a mulher a minha frente, a minha cara metade, meu complemento, esteve me seguindo todo o tempo. Esteve chamando minha atenção e clamando por ela por anos. Alí, naquele shopping espelhado eu pude ver que a mulher a minha frente era somente eu mesma. Minha imagem refletida no espelho. Uma imagem que eu nunca reconhecia como minha porque não lembrava dela. Nunca a conhecí de verdade. Me aproximei do espelho, toquei sua superfície e ví a felicidade refletida em minha imagem. Agora eu conseguiria viver. Sim, tinha acabado de encontrar o amor... na minha metade!
LMPS

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